Filho de Noman, prefeito de BH, trabalha para a Chevrolet, fundadora da Stock Car

In De Olho na Política, De Olho no Ambiente, Em destaque, Mudanças Climáticas, Principal, Últimas

Prefeito da capital mineira, Fuad Noman (PSD) tem sido alvo de críticas pela derrubada de 63 árvores na região da Pampulha, onde será realizado o BH Stock Festival; vegetação em torno do Mineirão está sendo destruída sem licença ambiental

Por Tonsk Fialho

As corridas Stock Car acontecem no Brasil desde 1979. Para a versão 2024, Belo Horizonte entra no circuito dos “amantes da velocidade e da adrenalina”, como costuma enfatizar o marketing do evento. Na festa de lançamento oficial do BH Stock Festival, que teve a presença dos pilotos Felipe Massa e Cacá Bueno, os organizadores  apresentaram o circuito “emocionante”, com cerca de 3.200 metros, que passa pelas avenidas no entorno do Estádio Governador Magalhães Pinto, o Mineirão, no bairro da Pampulha.

Circuito do BH Stock Festival no entorno do Minerão. (Foto: Divulgação)

O prefeito de Belo Horizonte, Fuad Noman (PSD), esteve no evento. “Nós estamos aqui para dar estrutura e a condição mínima para que vocês possam realizar esse grande evento”, destacou o político mineiro. “Toda a nossa estrutura está voltada para permitir que vocês possam fazer um grande espetáculo”.

Fuad Noman só não detalhou que, para garantir a estrutura da corrida que acontecerá de 15 a 18 de agosto, já foram cortadas 63 árvores no bairro da Pampulha, o que trouxe protestos e insatisfação dos belo-horizontinos. Ele ganhou um novo apelido no município: “prefeito motosserra”. 

Durante o lançamento, no dia 06, o prefeito destacou também que “Belo Horizonte entrou no circuito mundial do automobilismo”. “E, por isso, agradeço aos envolvidos”. Ao longo de sua história, o evento contou com diversas marcas do mundo automobilístico. Cinco montadoras já fizeram parte do circuito: Mitsubishi, Volkswagen, Peugeot, Toyota e Chevrolet. Essa última é a patrocinadora,  fundadora e principal marca da Stock Car. 

FILHO DE PREFEITO É EXECUTIVO DE FINANCIADORA DA CHEVROLET

O prefeito Fuad Noman com o filho Paulo Henrique Lage Noman. (Foto: Instagram)

Com mais de 40 anos de existência, a Stock Car foi fundada pela Chevrolet, cuja marca é a principal do evento. Dos onze modelos com mais participações na corrida, seis são da Chevrolet, com destaque para o Opala. Ao todo, a marca conquistou 36 títulos dos 42 disputados – entre eles o do último ano. Até os dias atuais, a montadora é a principal financiadora e organizadora da Stock Car, que conta este ano com a japonesa Toyota como convidada. 

A ligação do prefeito com a empresa vem da família. Seu filho Paulo Henrique Lage Noman é administrador da GM Financial, banco de financiamento das montadoras General Motors e Chevrolet, além de presidente da Associação Nacional das Empresas Financeiras das Montadoras (Anef). A associação já se aventurou no universo das corridas, sendo organizadora de diversas edições do evento Fórmula 3 Brasil, uma categoria de automobilismo voltada para a formação de novos pilotos.

Em 2019, o filho do “prefeito motosserra” assumiu a presidência da Chevrolet Serviços Financeiros, banco que pertence à corporação General Motors. Atualmente o administrador também se apresenta como Superintendente Comercial Consórcio Chevrolet Experiência. 

Com 74 anos, seu pai, Fuad Jorge Noman Filho, construiu uma longa carreira política por meio de indicações para cargos de chefia em governos tucanos, desde o governo Fernando Henrique Cardoso, quando foi secretário executivo da Casa Civil, até o governo de Aécio Neves (PSDB), em Minas Gerais. Pouco conhecido entre os mineiros, ele foi eleito vice-prefeito e assumiu a prefeitura de Belo Horizonte após Alexandre Kalil (PSD) renunciar do cargo para concorrer ao governo de Minas Gerais, em 2022. Fuad é pré-candidato governista para as eleições municipais deste ano.

CORTE DE ÁRVORES E OUTAS MUDANÇAS EM BH CUSTARAM R$ 20 MILHÕES

Sessenta e três árvores foram derrubadas na região da Pampulha, um dos cartões postais da cidade.  Segundo o prefeito, a retirada das árvores para realização da corrida “é importante para a segurança dos pilotos que vão competir”. A Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), sediada na Pampulha, manifestou-se contrária às modificações realizadas pelo prefeito.

Famosos do automobilismo participaram do lançamento oficial do BH Stock Festival. (Foto: Divulgação)

De acordo com denúncia da deputada federal Duda Salabert (PDT-MG), as modificações realizadas para garantir que a corrida ocorra no local geraram um gasto de R$ 20,3 milhões aos cofres públicos.

Em suas redes sociais, a deputada lembrou que Belo Horizonte, segundo estudo realizado pelo Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), foi a capital com o pior resultado na avaliação das temperaturas extremas combinadas com a seca.

Entre novembro e dezembro do ano passado, a temperatura em BH esteve mais de 4º C acima do normal (entre 2000 e 2022). 

Uma liminar obtida na Justiça pelos vereadores Pedro Patrus (PT) e Bruno Pedralva (PT) chegou a suspender a retirada das árvores, mas a decisão foi cassada pelo presidente do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG), desembargador José Arthur de Carvalho Pereira Filho. O magistrado definiu o desmatamento na Pampulha como “relativo inconveniente” para a realização do evento, que traria “oportunidades de lazer, entretenimento, visibilidade turística, geração de empregos e desenvolvimento econômico” para Belo Horizonte.

A reportagem entrou em contato com a prefeitura mineira, a organização da corrida e a Chevrolet, mas não recebeu resposta até o fechamento desta edição.

Foto principal (Instagram/Duda Salabert): árvores derrubadas pela Prefeitura de Belo Horizonte no bairro da Pampulha para o município receber pela primeira vez as corridas Stock Car

Tonsk Fialho é pesquisador e repórter do De Olho nos Ruralistas. |

VEJA MAIS:
Ambientalistas reagem contra entrada de mineradora na Serra do Curral, na Grande BH

 

You may also read!

Clã que se diz dono de Jericoacoara foi condenado por fraude milionária em banco cearense

Ex-marido de Iracema São Tiago dirigiu o Bancesa, liquidado por desviar R$ 134 milhões da União e do INSS

Read More...

Prefeitura de SP nega superfaturamento e diz que obra de R$ 129 milhões segue “ritos legais”

Investigada por irregularidades, Ercan Construtora foi contratada para obra emergencial em talude na comunidade Morro da Lua, no Campo

Read More...

Os Gigantes: com apoio de prefeitos, projetos de carbono violam direitos de comunidades tradicionais

De Olho nos Ruralistas mapeou 76 projetos de emissão de créditos de carbono em 37 dos cem maiores municípios;

Read More...

Leave a reply:

Your email address will not be published.

Mobile Sliding Menu